Brasil continuará com fortes exportações de carnes para a Ásia nos próximos 3 anos
Publicado em 17/06/2020
Segundo analista do Itaú BBA, País deve ser favorecido com possível menor participação da Austrália no mercado global e lenta recuperação do plantel doméstico da China
A recuperação do plantel de suínos da China após a epidemia da peste suína africana, que atinge o país desde agosto de 2018, não será suficiente para o abastecimento doméstico do país até os próximos três anos. A avaliação é do analista de Agronegócio, Alimentos & Bebidas do Itaú BBA, André Hachem.
“A dinâmica de exportação de proteínas para a China ainda é muito favorável. A importação de carne bovina e suína pela China deve perdurar por, no mínimo, dois a três anos até a reconstrução do plantel doméstico“, disse o analista em coletiva de imprensa realizada pelo banco na manhã de segunda-feira, 15 de junho.
Ele acrescentou que o rebanho de suínos do país está 50% menor que o nível antes da epidemia, levando a uma redução de 20 milhões de toneladas no volume produzido da commodity.
Hachem pontuou, ainda, que mesmo com a migração para outras carnes, um terço da proteína animal consumida no país continua sendo de carne suína. “A produção de outras proteínas registrou aumento expressivo, mas a demanda por carne suína é significativa. Com isso, o governo afrouxou restrições sanitárias e abriu mercados para estimular as importações”, explicou.
Segundo o analista, a indústria brasileira de proteínas vai continuar se beneficiando de exportações muito fortes para a Ásia, pelo menos, nos próximos três anos, com a China mantendo importações expressivas.
“Exportações de carnes da América do Sul para a China devem continuar muito fortes em 2021. Nesse cenário, Minerva e Marfrig têm dinâmica favorecida com vendas significativas para a China”, explicou Hachem.
O Brasil também deve ser favorecido no mercado global por uma possível menor participação da Austrália, especialmente nas exportações de carnes bovinas, que deve ser menor nos próximos dois a três anos.
“A dinâmica dos próximos três anos ainda refletindo os impactos da peste suína africana é uma janela única para a indústria brasileira de proteína, que sempre enfrentou volatilidade. Ao fim deste ciclo, devemos ter empresas mais sólidas e com menor endividamento”, prevê Hachem.
Em compensação, o consumo doméstico de carnes no País ainda apresenta um cenário incerto, de acordo com o analista. “A conjuntura local pós pandemia do novo coronavírus é desafiadora para o consumo de proteínas. Em caso de forte recessão, podemos ter migração de demanda de carnes de maior valor agregado, como a bovina, para proteínas de menor valor agregado, caso dos frangos. Mas ainda é muito difícil precisar esse cenário”, avaliou Hachem.
Ele considerou também que as empresas devem ter dificuldade em repasse de possível alta do custo para os preços do produto final em virtude do cenário de retração econômica.
Produzir hambúrgueres e bifes a partir de células cultivadas pode ser visto como o futuro da indústria da carne, mas uma nova análise indica que a produção em massa de carne cultivada em laboratório usando as tecnologias atuais pode ser consideravelmente pior para o meio ambiente do que a carne bovina real. Atualmente, a carne à base de células animais é produzida apenas em uma escala muito pequena e com perdas econômicas, embora o estudo ainda não revisado sugira que a ampliação do processo poderia liberar entre 4 e 25 vezes mais emissões do que a indústria global de carne bovina. Segundo os autores do estudo, “(bilhões de) dólares de investimento foram alocados especificamente para o setor da carne cultivada com a tese de que este produto será mais ecológico do que a carne bovina”. No entanto, embora seja verdade que a carne cultivada em laboratório elimina os requisitos de terra, água e antibióticos da criação de gado, os pesquisadores explicam que muito do interesse na carne cultivada foi impulsionado por análises imprecisas das emissões de carbono. O problema, dizem eles, é que muitos desses relatórios modelaram o impacto climático da carne cultivada usando tecnologias que não existem ou provavelmente não funcionarão. Por exemplo, um estudo frequentemente citado estimou as emissões de carbono da produção de carne cultivada usando hidrolisado de cianobactérias como matéria-prima para as células. No entanto, os pesquisadores desta última análise explicam que “esta não é uma tecnologia ou matéria-prima atualmente usada para a proliferação de células animais, nem é uma que esteja próxima da viabilidade”. Outros relatórios muito divulgados tentaram analisar o impacto ambiental da carne cultivada produzida com componentes do meio de cultivo de qualidade alimentar. No entanto, atualmente, o processo só é possível usando misturas de nutrientes de grau farmacêutico, que são purificadas a um nível muito mais alto. É esse processo de purificação que atualmente responde pela maior parte das emissões associadas à produção de carne cultivada, dizem os pesquisadores. Em particular, a remoção de endotoxinas – que são liberadas por bactérias no ambiente – é absolutamente essencial para a criação de carne cultivada, pois mesmo pequenas quantidades dessas toxinas no meio de cultivo podem impedir a proliferação de células. “A cultura de células animais é tradicionalmente feita com componentes do meio de crescimento que foram refinados para remover/reduzir a endotoxina”, escrevem os autores do estudo. “O uso desses métodos de refinamento contribui significativamente para os custos econômicos e ambientais associados aos produtos farmacêuticos, uma vez que consomem muita energia e recursos”. Assumindo o uso contínuo de meios de cultivo altamente refinados, os pesquisadores estimam que cada quilo de carne cultivada produz 246 a 1.508 quilos de emissões de dióxido de carbono. Com base nesses números, eles calculam que o potencial de aquecimento global da carne cultivada é entre quatro e 25 vezes maior que o da carne bovina no varejo. Grande parte desse impacto é impulsionado pelos requisitos de combustível fóssil associados à purificação dos componentes do meio de crescimento. Segundo os autores do estudo, isso é entre 3 e 17 vezes maior do que a quantidade usada para produzir carne desossada. Com base nesses cálculos, os pesquisadores concluem que “o impacto ambiental da produção de carne cultivada a curto prazo provavelmente será de ordem de magnitude maior do que a produção média de carne bovina se um meio de crescimento altamente refinado for utilizado para a produção de carne cultivada”. Oferecendo uma solução, os autores sugerem que o desenvolvimento de linhagens de células que podem tolerar níveis mais altos de endotoxinas pode reduzir a necessidade de processos de purificação com uso intensivo de energia, reduzindo assim o impacto ambiental da carne cultivada em laboratório. Leia o estudo completo: https://www.beefcentral.com/wp-content/uploads/2023/05/2023.04.21.537778v1.full_.pdf
País aumentou a presença global, com vendas de junho em alta e semestre batendo recorde No dia 2 de julho, o Portal DBO já havia adiantado a informação e hoje (10/7), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou: as vendas de carne bovina foram recordes no mês de junho, levando junto o primeiro semestre de 2020. O Brasil nunca havia vendido tanto, entre os meses de janeiro e junho. No caso do último mês, de acordo com o AgroStat, o banco de dados elaborado pelo Mapa, as exportações de carne bovina renderam US$ 742,56 milhões neste ano, um aumento de 40,7% maior ante os US$ 528 milhões registrados em junho de 2019. Tomando todas as carnes exportadas – bovina, suína e de aves – a receita em junho deste ano foi de US$ 1,41 bilhão. No mês passado, o volume exportado de carne bovina alcançou 176,6 mil toneladas, um crescimento de 28,2% na comparação com junho de 2019, período em que foram embarcadas 138 mil toneladas. O preço médio recebido, por tonelada, foi de US$ 4.205, valor 9,7% superior a junho do ano passado, com US$ 3.883. Exportações no primeiro semestre As exportações de junho foram o resultado de um movimento crescente e contínuo. A demanda global por proteína animal, aí incluída a carne bovina, vem em ascensão desde o ano passado, deve se refletir até a virada de 2020 e não há expectativa de que pare em 2021. Nem mesmo a pandemia de Covid-19, que deve afetar a renda em diversos países, amainou a apetite por proteína vermelha. Para este ano, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), tem apontado que a estimativa é superar a receita de 2019, que foi de US$ 7,6 bilhões. No acumulado dos primeiros seis primeiros deste ano, o volume exportado de carne bovina foi de 908 mil toneladas. A alta foi de 9,3%, sobre as 831 mil toneladas embarcadas no mesmo período do ano passado. A receita alcançou US$ 3,93 bilhões, um crescimento de 25,7% sobre os US$ 3,1 bilhões em igual período de 2019 O desempenho recorde tem como protagonista a China. O principal destino da carne bovina brasileira no semestre foi o país asiático. A receita ficou em US$ 1,84 bilhão para 364,7 mil toneladas. No semestre, a China aumentou as compras em US$ 1,14 bilhão, sendo o maior responsável pelo crescimento e pelo recorde de vendas verificados. Exportação de carne bovina para a China nos seis primeiros meses de 2020 Janeiro = 53,1 mil toneladas, por US$ 319,8 milhões Fevereiro = 37,6 mil toneladas, por US$ 196,1 milhões Março = 51,8 mil toneladas, por US$ 249,9 milhões Abril = 60,7 mil toneladas, por US$ 289,2 milhões Maio = 83,9 mil toneladas, por US$ 411,3 milhões Junho = 77,2 mil toneladas, por US$ 369,2 milhões Dados: Agrostat Fonte: Portal DBO
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